A Petrobras aderna

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BRASIL REAL – CARTAS DE CONJUNTURA ITV. PUBLICAÇÃO QUINZENAL, Nº 115, MARÇO/2014

Síntese: Em meio a investigações policiais e denúncias que respingam até na presidente da República, a Petrobras atravessa a fase mais difícil de seus 60 anos de história. O governo do partido que sempre se disse guardião das estatais está simplesmente destruindo este precioso patrimônio público e orgulho dos brasileiros. Desde a descoberta do pré-sal, a companhia aderna, perde valor de mercado, não consegue aumentar sua produção e ainda é forçada pelo seu controlador, a União, a conter preços para ajudar a segurar a inflação. Maus negócios e uma gestão ruinosa ajudam a minar as perspectivas daquela que já foi a maior empresa brasileira.

A Petrobras vive atualmente uma das fases mais difíceis de seus 60 anos de história. A debacle da empresa – que meses atrás perdeu a condição de maior companhia de capital aberto do país para uma fabricante de cerveja – coincide com a mudança dos marcos legais do setor de petróleo no Brasil, o aprofundamento de políticas públicas lesivas à sua saúde financeira e a sobrecarga imposta sobre a estatal a partir das descobertas do pré-sal.

Nestes últimos três anos, a Petrobras murchou. Em 2010, em função da valorização de suas ações e das perspectivas que se abriam para a expansão da exploração de petróleo no país a partir do pré-sal, a companhia chegou a ser listada entre as dez mais valiosas do mundo.

Hoje, figura apenas na 121ª posição. Nos últimos 12 meses, só um banco salvo da falência pelo governo espanhol perdeu mais valor de mercado que a Petrobras.
O mergulho é dramático. Em maio de 2008, a Petrobras atingiu o mais alto valor de mercado de sua história: R$ 510,4 bilhões. Desde então, suas ações balançaram e, de 2010 para cá, afundaram de vez. Hoje valem cerca de R$ 200 bilhões, o que representa perda de mais de 60% ao longo de seis anos.

Ao mesmo tempo, concorrentes antes inexpressivos hoje valem tanto quanto a petrolífera brasileira, como é o caso da Ecopetrol colombiana – beneficiada pela adoção, pelo governo daquele país, de um modelo de concessões para exploração de petróleo tal qual o adotado pelo Brasil em 1997.

Entre os principais prejudicados pelo derretimento dos papéis da Petrobras estão trabalhadores que investiram parte de seu FGTS em ações da companhia. A operação aconteceu em agosto de 2000 e atraiu 370 mil interessados. O negócio só não foi mais ruinoso porque quem tivesse mantido seu dinheiro parado no FGTS teria ganhado ainda menos. Mesmo assim, as perdas dos últimos anos têm sido capazes de tirar o sono de muita gente.

 

Maus negócios

A Petrobras tem ido tão mal em função da estratégia equivocada traçada pelo governo Lula e mantida pela gestão da presidente Dilma Rousseff para a empresa. A companhia foi convertida numa espécie de muro do arrimo da política oficial de contenção da inflação. Há anos seus preços deixaram de acompanhar as cotações internacionais e variam bem menos que os custos.
Além disso, a empresa não consegue produzir petróleo e derivados em quantidade suficiente para abastecer o mercado interno. Assim, é forçada a importar – no ano passado, foram, em média, 800 mil barris/dia, gerando déficit de US$ 16,2 bilhões.

O problema é que a Petrobras é obrigada pelo seu controlador, ou seja, a União, a vender no mercado brasileiro por preços abaixo dos que paga no exterior. Empresa nenhuma no mundo é capaz de sobreviver fazendo tão mau negócio. Em razão disso, em 2013 a área de abastecimento da companhia registrou prejuízo de R$ 17,8 bilhões. A política de manutenção artificial de preços da gasolina e do diesel no Brasil inclui, ainda, subsídios concedidos pelo governo federal na forma de redução de tributos, como Cide, PIS e Cofins.

Tudo considerado, foram mais de R$ 95 bilhões em perdas entre 2011 e 2013, segundo o CBIE.
Como produz menos do que precisa e revende produtos por preços mais baixos do que aqueles pelos quais os compra, a Petrobras não consegue gerar caixa em volume suficiente para sustentar seu plano de negócios, que soma US$ 221 bilhões até 2018. A saída tem sido contrair mais dívida: a líquida praticamente multiplicou-se por quatro desde 2010 e a bruta soma hoje R$ 268 bilhões, com alta de 36% só no ano passado.

A Petrobras tornou-se a mais endividada entre todas as empresas não financeiras do mundo.
Com este perfil, a estatal tem encontrado dificuldades para manter sua nota de crédito, o que tende a encarecer novos financiamentos e, no limite, até a fechar as portas do mercado global de captação para a empresa. Desde outubro do ano passado, duas agências de rating – Moody’s e Standard & Poor’s – rebaixaram a nota de risco de crédito de petrolífera brasileira e ameaçam agora tirar-lhe o grau de investimento se a situação não melhorar.

 

Produção declinante

Mais preocupante é que a Petrobras encontra dificuldades em realizar o que é seu principal negócio: extrair e produzir petróleo. Em 2013, a produção da empresa voltou a cair (-2,5%). Foi a primeira vez, em 60 anos, em que houve dois declínios consecutivos e o quarto recuo anual registrado em toda a história da empresa – os outros ocorreram durante os governos de Fernando Collor de Mello e de Luiz Inácio Lula da Silva.

Desde 2003, a Petrobras também não tem conseguido cumprir as metas de produção traçadas em seus planos de negócios: pelo previsto lá atrás, o volume atual, em torno de 2 milhões de barris diários, já deveria ter sido atingido em 2006.

Com tantos desequilíbrios e tendo de lidar com tamanhos contratempos, a Petrobras ainda se vê às voltas com a obrigação de levar adiante bilionários investimentos nas águas ultraprofundas do pré-sal. No único leilão sob as novas regras de partilha realizado até agora, a empresa brasileira associou-se a parceiros chineses e desembolsou 40% do lance mínimo de R$ 16 bilhões para ficar com a maior reserva de petróleo já vendida em todo o mundo. Terá, ainda, a responsabilidade de ser a operadora única dos poços.

São obrigações demais e condições de menos para tanto.
Como se não bastasse, a estatal tem sido levada a fazer péssimos negócios e a lançar-se em investimentos ruinosos, como foi o caso da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, por valor quase 30 vezes superior ao pago pelos antigos sócios.

Atrasadíssimos e caríssimos, empreendimentos como o complexo petroquímico do Rio (Comperj) e a refinaria Abreu e Lima em Pernambuco também caminham para tornarem-se experiências exemplares no mundo, lições para se aprender e nunca mais serem repetidas.

O quadro de descalabro se completa com a descoberta, pela Polícia Federal, de um gigantesco esquema de corrupção que pode ter drenado R$ 10 bilhões dos cofres da companhia para irrigar bolsos de petistas e aliados do governo federal.

Definitivamente, a companhia não merece tantos maus-tratos e clama por uma investigação séria, numa CPI que passe sua história recente a limpo. Está na hora de a Petrobras deixar de servir aos que se apossaram dela para desviar dinheiro público e sustentar um projeto de poder, deixar as páginas policiais e voltar a ser um orgulho de todos os brasileiros.

Ponto de vista

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