O mito do gasto que gera prosperidade
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Por Paulo Abi-Ackel*
Cobrado cada vez mais a cortar gastos públicos, principalmente após a forte reação negativa ao aumento do Imposto de Operações Financeiras – IOF, o presidente Lula tem dobrado a meta e insistido em aumentar, ainda mais, os gastos de seu governo, com o correlato aumento da carga tributária.
Os brasileiros têm sentido no bolso e na mesa os efeitos do descontrole fiscal do governo Lula. A grande marca da gestão Lula 3 é o aumento da inflação, principalmente a dos alimentos. Muito se diz a respeito da relação entre aumento dos gastos públicos e o crescimento da inflação, que tanto impacta o povo.
Para poder gastar mais, o governo tem que obter cada vez mais receitas e essas só têm três fontes possíveis: aumento de impostos, expansão monetária (impressão de dinheiro) e obtenção de recursos via aumento da dívida pública (o que é conseguido por meio da venda de títulos públicos, pelo Tesouro Nacional).
O aumento da arrecadação pressiona cada vez mais o setor produtivo e os brasileiros em geral, principalmente os mais pobres. 27,2% da renda das famílias já se destina ao pagamento de dívidas, demonstrando o aperto monetário pelo qual têm passado, agravado pelo aumento sucessivo da taxa básica de juros (SELIC), utilizada pelo Banco Central para conter a inflação.
Isso demonstra como o aumento da inflação afeta principalmente os mais carentes, como os beneficiários de programas sociais, por exemplo. Com ela, o beneficiário do Bolsa Família, que ganha, no mínimo, R$ 600,00 por mês, tem visto, em menos de dois anos, o poder de compra do seu benefício ser reduzido a, proporcionalmente, R$ 300,00 ou menos.
Do lado dos gastos, a injeção de dinheiro público na economia gera, no curto prazo, aumento da atividade econômica e diminuição dos índices de desemprego, com aumento da demanda por produtos e serviços. Não havendo mais capacidade ociosa para aumentar a oferta e fazer frente a esse aumento da demanda, os preços são diretamente impactados e sobem.
Em síntese, quanto mais gasto público, mais inflação. Note-se que, apesar das altas recentes da SELIC, que afetam diretamente o setor produtivo, encarecendo a tomada de crédito, e os cidadãos em geral, elevando o custo dos empréstimos, a inflação segue em alta. Até maio deste ano, o IPCA acumulado de 12 meses era de 5,32%. A meta do governo é que ele se mantivesse em 4,5% em 2025.
Não há saída concreta para o governo senão a de atacar a raiz do problema, qual seja, o aumento descontrolado de gastos públicos. Além de segurar a inflação e melhorar os fundamentos da saúde da economia, isso fará com que a economia brasileira cresça de forma mais sustentável e duradoura.
Ademais, contrariando a infundada visão Lulo-petista, estudos demonstram que a expansão das despesas públicas gera o efeito crowding-out, ou seja, de “expulsão do gasto privado”. E a intervenção governamental também faz com que o aumento do produto da economia (PIB) seja inferior ao incremento da despesa pública. Ou seja, há um jogo de “soma negativa”: para cada R$ 1,00 de gasto público a mais (o que exige que haja, no mínimo, R$ 1,00 de gasto privado a menos) haverá uma resposta do PIB inferior a R$ 1,00.
Dessa forma, o motivo ideológico que sustenta a explosão dos gastos públicos sob o presidente Lula, o já apontado “mito” de que gastos públicos geram crescimento econômico, impede a implementação de medidas para que nossa economia se desenvolva de forma sustentável, no longo prazo.
Somada a isso, a inflação, que hoje bate implacavelmente à porta dos brasileiros, tornou a perda de popularidade do presidente Lula crescente e permanente. Que sirva de amostra do que a continuidade dessa gestão pode causar de mal para o Brasil e para os brasileiros.
*Paulo Abi-Ackel é Deputado Federal por Minas Gerais, Presidente do PSDB/MG e Secretário Geral do PSDB.