Eduardo Leite: o futuro é o que deve nos unir no PSDB

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Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente nacional do PSDB, governador Eduardo Leite, falou dos desafios no comando no partido, da relação com o governo federal e do trabalho para manter o Rio Grande do Sul no caminho do desenvolvimento.

Confira alguns trechos da conversa com o jornalista Ricardo Mendonça:

O senhor assumiu a presidência do PSDB no fim do ano passado. O que muda no partido?
Eu tenho o papel de liderar para dentro do PSDB a discussão sobre as agendas do partido, o seu propósito, suas bandeiras. Depois do resultado eleitoral muito ruim para o partido – é a menor bancada do Congresso na nossa história -, o momento exige essa discussão. Como vamos nos comunicar? O que vamos comunicar? Quais são as bandeiras que a gente deve erguer com mais força? Com quais setores devemos nos aproximar?

Qual é o desafio?
Sensibilizar as pessoas, cativar, nos conectarmos com os corações e mentes dos eleitores. É para que, de uma forma orgânica, com brilho no olho, cada um dos nossos líderes possa estar conectando o partido novamente com as ruas. É um momento de discussão interna, alinhamento. É para que possamos sair falando uma mesma língua, de forma coerente, depois de, por algum momento, ter havido aí até uma crise de identidade.

Além da redução da bancada, outra marca do PSDB em 2022 foi não ter apresentado candidato próprio à Presidência pela primeira vez. O que explica essa fase e esses resultados tão ruins?
O cenário eleitoral de 2015 para cá tornou-se especialmente tenso, turbulento e com uma polarização muito forte. Isso depois de um período de o partido ter sido um antagonista ao PT. Quando esse antagonismo ao PT passa a ser exercido pelo bolsonarismo, isso gerou uma crise de identidade para o PSDB. E aí gerou a aproximação de alguns [tucanos] com bolsonarismo, insatisfação de outros, que repudiavam o bolsonarismo. E isso gerou uma crise de identidade. Então, por isso, o partido chegou fragilizado nas eleições, deixou de ter candidato e teve os resultados que teve.

Em 2022, figuras importantes do PSDB, como o governador Eduardo Riedel (MS) e diversos parlamentares, apoiaram Jair Bolsonaro. Outros, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes, apoiaram Lula. O senhor não declarou apoio a ninguém. Como construir unidade numa agremiação assim?
Olhando para o futuro. O futuro é o que deve nos unir no PSDB. Com esse episódio de polarização intensa, as escolhas feitas não são reveladoras do caráter ou do pensamento político puramente das lideranças políticas. Os que lutaram por um e os que lutaram por outro, tenho certeza, não o fizeram com satisfação. Acho que a gente deve deixar isso agora para discutirmos o futuro.

O senhor fez um grande esforço para tentar ser candidato a presidente em 2022. Em 2026, não poderá tentar nova reeleição. É certo que tentará a Presidência?
Não. Não é certo, não. Nem estou considerando isso. O foco é total no governo. A gente acabou de passar por uma eleição. Eu tenho absoluta tranquilidade que o contexto, o cenário político, é muito dinâmico. A gente pode chegar lá em 2026, o vento ter soprado numa direção ou em outra e mudado completamente o contexto, exigindo posições diferentes. Na minha responsabilidade como governador, participarei dos debates e das discussões nacionais. Mas as decisões sobre candidatura em 2026 são reservadas ao momento adequado, que é mais adiante.

O senhor e outros 26 governadores reuniram-se com o presidente Lula para tratar das prioridades de cada Estado. O que pleiteou?
Relacionamos itens em infraestrutura, especialmente. É muito importante que a gente tenha um investimento que ajude a reduzir o curso de logística, afinal nós estamos ao sul do Brasil. Conexão com países vizinhos, pontes em ligação com a Argentina, com o Uruguai. Duplicação de estradas, investimentos no nosso sistema ferroviário.

Que avaliação faz sobre essa fase inicial do governo Lula?
Acho que o aspecto especialmente positivo é a abertura ao diálogo. Nós tínhamos muitas dificuldades no governo passado até pela hostilidade do expresidente [Jair] Bolsonaro. Sempre agredindo e atacando governadores e todos aqueles que não estivessem com ele. Então agora há uma relação mais saudável, uma abertura para discutir temas importantes para os Estados, como a compensação das perdas no ano passado por conta da redução forçada de ICMS promovida pelo governo federal.

E a crítica?
Causa preocupação na área econômica. Quais serão os direcionadores da política fiscal? Como é que o comportamento das ações do governo vai influenciar na economia? Há muita expectativa sobre o que virá em relação ao arcabouço fiscal. O histórico do PT e do presidente Lula leva a crer que as regras que venham a constar de um arcabouço fiscal não sejam tão sólidas e rígidas a ponto de gerar a melhor segurança para os investidores.

Mas o senhor já faz uma avaliação negativa nesse campo?
Não. Eu acho que não dá para avaliar ainda. O importante é aguardar os movimentos.

Como avalia a chance de aprovação da reforma tributária?
Será especialmente dependente da ênfase que o presidente da República colocar. Eu tive a oportunidade de fazer reformas muito profundas do Rio Grande do Sul. Privatizações, reforma administrativa, da Previdência. Todas tiveram sucesso porque o próprio governador se envolveu. Eu liderei pessoalmente essas reformas, as reuniões, explicava aos setores atingidos, aos servidores, aos partidos, aos deputados. Estive direamente envolvido para que ficasse claro que era uma agenda prioritária. Isso fez toda a diferença. Se houver forte envolvimento do presidente da República, acho que há ambiente político e compreensão da importância da reforma.

CLIQUE AQUI para ler a íntegra da entrevista

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