Os funerais da nova matriz (Carta 1043)
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Carta de Formulação e Mobilização PolÃtica, 01 de dezembro de 2014, No. 1043
Os últimos dias têm marcado as exéquias da matriz econômica adotada no paÃs ao longo do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Nenhuma novidade quanto ao fracasso da empreitada: na realidade, sempre que o PT pôs suas ideias econômicas em prática, elas falharam. Até a eleição de Lula, em 2002, o partido defendia plataforma de mudanças radicais no modelo econômico, pregava a “ruptura necessária†– nome da tese que orientava o partido até o inÃcio daquela eleição – com o sistema capitalista e ações no rumo do socialismo. Com a conquista do poder, isso virou peça de museu. Durante seu primeiro mandato, Lula valeu-se de uma agenda liberal e de talentos idem para levar o paÃs a uma trajetória de crescimento sustentado que aproveitou adequadamente os ventos da bonança mundial. Deu certo enquanto durou a experiência baseada no respeito a contratos e na melhoria do ambiente de negócios. Os petistas viram na crise de 2008 oportunidade para finalmente tirar suas empoeiradas teses da gaveta. Nasceu, assim, a “nova matriz econômica†que ora dá seus últimos suspiros sem ter produzido praticamente nada de bom enquanto existiu. O modelo tinha suas pernas – ou seriam patas? – fincadas no aumento da demanda. Mais crédito, principalmente das generosas linhas da “bolsa empresário†do BNDES, mais gasto público, mais consumo, temperados por juros baixados à força e desonerações pontuais. Os resultados estão aà para qualquer um ver: crescimento ridÃculo do PIB, inflação renitentemente alta, descontrole dos gastos públicos, descompromisso com a gestão fiscal, azedume generalizado no ambiente de negócios em função da falta de perspectivas, incertezas e intervencionismo exacerbado do governo. Mais uma vez, a saÃda do PT está em fazer o inverso do que sempre pregou. Para tirar o paÃs do atoleiro, mais uma vez terá de recorrer a uma agenda que não é sua, mas que se tornou a única salvação diante do colapso generalizado por que passa nossa economia. A opção pela ortodoxia econômica é sinal evidente de que Dilma elegeu-se sem saber o que fazer pelo paÃs. Passado um mês das eleições que lhe deram mais quatro anos de mandato, a reeleita continua sem enunciar o que fato pretende para o paÃs. O que poderia ser apenas prosaico torna-se bem mais grave diante da inexistência de um programa de governo apresentado aos eleitores ao longo da campanha. Dilma Rousseff recusou-se a participar da cerimônia na qual a nova equipe econômica foi apresentada ao paÃs na semana passada. É possÃvel que tenha, na realidade, evitado estar na missa de corpo presente do modelo que ela pôs em prática e que redundou num fiasco de proporções como há muito tempo não se via neste paÃs. Â