A Praga do Protecionismo

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Ameaça americana de sobretaxar aço e alumínio pode redundar em menos comércio, com consequências muito negativas para a economia global, e para o Brasil em particular

Donald Trump deflagrou na semana passada nova ameaça à tranquilidade global. Desta vez, o temor não é com o risco de detonação de alguma arma bélica, mas os efeitos da guerra comercial pretendida pelo presidente americano podem ser igualmente danosos para economias ao redor do mundo, que alimentam bilhões de pessoas.

O governo Trump promete tarifar as importações de aço em 25% e as de alumínio em 10%. A alegação é proteger a indústria local e garantir a segurança americana, já que ambos os produtos também são insumos básicos do setor bélico. Em tom populista, ele usou suas redes sociais nos últimos dias para defender sua “guerra comercial”.

O tema diz respeito diretamente ao Brasil. Quase metade do aço produzido pelo país é exportado e, desse volume, 1/3 tem os EUA como destino. Em 2017, equivaleram a 4,7 milhões de toneladas e renderam US$ 2,6 bilhões em receitas.

O Brasil é o segundo maior fornecedor do produto ao mercado americano, com 13% do total – o Canadá lidera, com 17%. Segundo a CNI, o impacto da medida para a balança comercial brasileira, incluindo também as vendas de alumínio, pode chegar a US$ 3,1 bilhões, cerca de 1,5% das exportações previstas para este ano.

Os detalhes das barreiras sonhadas por Trump ainda não são conhecidos, mas é certo que se a opção for por mais protecionismo – o que ele reiterou em todas as ocasiões em que foi questionado a respeito desde quinta-feira – todos serão prejudicados.

Também por isso, Trump sofre críticas até internamente, e até de seus correligionários do Partido Republicano. Só a parte atrasada da indústria americana – cujo aço que fabrica é bem mais caro que o importado – comemora. Segundo o Valor, aço e alumínio representam apenas 2% do total das importações americanas e envolvem somente 0,1% dos empregos do país.

Consumidores americanos serão os primeiros a pagar o pato: como o país não é autossuficiente, importa maciçamente produtos que poderão ficar bem mais caros. Mas temem-se efeitos bem mais danosos e generalizados se a ideia de Trump for adiante, afetando trabalhadores do mundo todo.

Menos comércio pode conduzir a economia global a uma recessão. Inflação maior e juros mais altos nos EUA também tornam-se mais possíveis, com efeitos generalizados sobre a atividade em todas as nações do mundo – Brasil, claro, inclusive.

A escalada da insensatez já começou. A União Europeia ameaça retaliar o repto lançado pelos EUA e cogita sobretaxar alguns produtos icônicos da economia americana, como os jeans da Levy’s, uísques Bourbon e até as motocicletas da Harley-Davidson. O Brasil, junto com dezenas de países, promete apelar a organismos multilaterais, como a OMC.

O protecionismo americano tende a ser respondido com mais protecionismo. Em consequência, o comércio global se reduzirá. E toda vez que o comércio retrocede perdem todos.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1750

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