Rumo à segundona (Carta 987)

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Carta de Formulação e Mobilização Política, 10 de setembro de 2014, No. 987

Com uma política à altura do futebolzinho que a seleção brasileira jogou na Copa do Mundo, o Brasil corre o risco de cair para a segunda divisão entre as economias do mundo. A avaliação que os credores internacionais fazem das nossas condições econômicas é cadente. Ontem foi a vez de a Moody’s colocar a nota de crédito brasileira em perspectiva negativa. A agência segue o mesmo caminho já trilhado pela Standard & Poor’s, que em junho do ano passado reduziu a perspectiva dos títulos brasileiros e, nove meses depois, em março último, rebaixou-os. Entre os motivos que a Moody’s cita para sua decisão estão: baixo crescimento da economia, baixo investimento e mau desempenho fiscal. Se alguém se surpreende ou não concorda com isso, provavelmente não conhece o que está acontecendo no Brasil. Tomando-se apenas o que aconteceu nos últimos sete meses, o resultado primário do governo brasileiro saiu de superávit de R$ 10,4 bilhões em dezembro passado para um déficit de R$ 4,7 bilhões em julho. No mesmo período, a dívida bruta em proporção do PIB subiu de 56,7% para 59%, segundo o Valor Econômico. Desde que Dilma assumiu o comando do país, a deterioração é ainda mais aguda. Entre 2006 e 2010, a relação dívida bruta/PIB havia caído três pontos: de 56,4% para 53,4%. Em menos de quatro anos, a atual presidente piorou o indicador em quase seis pontos do PIB. Na alienação que passou a caracterizar a pasta nos anos recentes, o Ministério da Fazenda sustentou que os problemas que levaram à decisão da Moody’s “já estão sendo superadosâ€. Novamente a culpa pela ruindade econômica do Brasil neste momento foi jogada nas costas do mundo, da Copa e da seca. Só quem não conhece a fama do demitido Guido Mantega compra uma avaliação desta. A própria Moody’s é taxativa: o problema são “fraquezas domésticas†e não fatores globais, num momento em que boa parte das economias que passaram por crise já se recuperam. Se ocorrer mesmo o rebaixamento, o que pode levar até 18 meses, o degrau seguinte é o nível especulativo. Como consequência, diminui a oferta de crédito para o país e o dinheiro dos empréstimos fica mais caro. A vida da economia, em suma, fica mais difícil. Fato é que o governo Dilma simplesmente implodiu a responsabilidade fiscal nos moldes como foi estabelecida pela gestão tucana, como parte do tripé macroeconômico que também inclui o regime de metas para a inflação e o câmbio flutuante. No lugar de uma política vitoriosa, atestada até pelos resultados alcançados nos anos iniciais do petismo com Lula, a atual candidata à reeleição colocou um monstrengo que só conseguiu produzir desaceleração econômica, inflação constantemente alta e um desânimo generalizado no ambiente econômico. Só Dilma para conseguir um feito assim.  

 

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