“Vale Gás, dignidade em casa”, por João Doria
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Quem passou algum tipo de dificuldade na vida sabe o quanto é importante receber ajuda, por menor que ela possa ser. Durante o período em que meu pai foi exilado pela ditadura militar, tivemos que deixar o Brasil.
Fiquei dois anos no exílio. Meu pai ficou dez. Dessa época de privações e orçamento apertado, recordo-me de minha mãe cozinhando o feijão da semana aos domingos, para economizar no gás da semana.
Em recentes visitas que realizei para a doação de cestas do Alimento Solidário, pelo Fundo Social, presidido pela primeira-dama do estado de São Paulo, Bia Doria, soubemos de casos em que não bastava entregar a comida. As famílias não tinham dinheiro para o gás.
Em muitos bairros da cidade de São Paulo, o botijão de 13 quilos custa R$ 95 —cerca de 7% do salário mínimo estadual. Em alguns lugares, o botijão chega a custar R$ 110.
Imediatamente, a memória da infância me cobrou uma atitude. Encomendei estudos às secretarias de Fazenda, de Governo e de Desenvolvimento Social. E, desde o dia 17 de junho, estamos incluindo o benefício Vale Gás, no valor de R$ 300, em três parcelas bimestrais de R$ 100, entre os programas de proteção social para as pessoas mais carentes do estado de São Paulo.
Nesse primeiro momento, vamos atender cem mil famílias, ou seja, aproximadamente 500 mil pessoas. Elas receberão o valor do Vale Gás por meio do programa Bolsa do Povo.
O fato de lançarmos o Vale Gás para garantir a nutrição de cem mil famílias vulneráveis de São Paulo, em situação de extrema pobreza, indica a gravidade da crise social e econômica do país. Defendemos a necessidade de implementar programas sociais como forma de garantir a dignidade das famílias: acesso à comida, à saúde, à educação e à moradia.
Os programas devem, preferencialmente, privilegiar mecanismos que permitam a qualificação profissional, o empreendedorismo, o emprego e a consequente ascensão social. No entanto, também são instrumentos de apoio em situações de emergência, como na atual crise sanitária do país.
Em grande parte, o valor interno do gás é decorrente dos preços internacionais, cotados em dólar. O governo federal gera insegurança aos investidores e levou nossa moeda à cotação recorde de mais de R$ 5 por dólar.
Tal quadro foi responsável, em grande parte, pela disparada no custo do botijão de gás. Some-se a isso a ausência de um fundo de compensações para momentos de grande oscilação nos mercados. Fica claro que o governo federal adotou a política de repassar todas as variáveis de custo para o consumidor, prejudicando principalmente os mais pobres.
O benefício do Vale Gás que estamos adotando é uma medida compensatória para garantir que todos os brasileiros, especialmente os mais vulneráveis de São Paulo, possam atravessar este difícil ano com vacina no braço e comida no prato.
(*) Governador de São Paulo
Artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 08/07/2021