“Nem golpe, nem impeachment”, por Marcus Pestana

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Desde que me entendo por gente, assisti a in煤meros debates e palestras. Sempre me incomodou a figura ret贸rica de certos oradores que come莽avam com a frase: 鈥淥 Brasil vive a pior crise da sua hist贸ria鈥. Era claramente um artif铆cio para valorizar a fala. O Brasil viveu diversas crises graves. O suic铆dio de Vargas, a ren煤ncia de J芒nio Quadros, o golpe de 64, as morat贸rias externas, a hiperinfla莽茫o, recess玫es profundas, dois impeachments, entre outras. Fato 茅, que estamos mergulhados numa crise complexa e multifacetada.

Governar n茫o 茅 f谩cil. 脡 fazer escolhas. Na democracia, muitas vezes a pol铆tica resvala na demagogia. Mas, ou se enfrenta os problemas ou a demagogia vai cobrar um alto pre莽o em algum momento futuro. Como disse Montesquieu: 鈥淥 pol铆tico deve sempre buscar a aprova莽茫o, por茅m jamais o aplauso鈥. A legitima莽茫o do poder s贸 茅 duradoura se os resultados aparecem e a realidade avan莽a. A democracia gera o famoso sistema de freios e contrapesos como ant铆doto aos abusos de poder. Como afirmou o l铆der conservador irland锚s, Edmond Burke: 鈥淨uanto maior 茅 o poder, tanto mais perigoso 茅 o abuso鈥.

Muita discuss茫o houve sobre a m谩xima de Bismarck: 鈥淎 pol铆tica 茅 a arte do poss铆vel鈥. Ser谩? Ou ser谩 a arte de fazer poss铆vel o necess谩rio? Ou at茅 mesmo um dos lemas do maio de 68 na Fran莽a: 鈥淪ejamos realistas, pe莽amos o imposs铆vel鈥? Independente disso, a pol铆tica 茅 o 煤nico instrumento capaz de mudar o mundo e a vida. Para avan莽ar 茅 preciso construir apoios majorit谩rios. Assistimos, no Brasil, a dificuldade imensa de aprova莽茫o de reformas tribut谩ria e administrativa que mere莽am o nome. Tamb茅m, com 24 partidos representados no Congresso e uma dispers茫o disfuncional, onde o maior partido tem apenas pouco mais de 50 deputados. Hoje n茫o h谩 maioria e minoria organizadas no Congresso e a pol铆tica, que avan莽a na rela莽茫o dial茅tica entre coopera莽茫o e conflito, se caracteriza pela predomin芒ncia quase absoluta do conflito, ditado pelo estilo de governar de Bolsonaro.

No 煤ltimo 7 de setembro pairou um clima de golpe. Especula莽玫es, temores, amea莽as dominaram a cena. O golpe n茫o veio. O apoio popular 脿 uma virada de mesa alcan莽aria no m谩ximo 10% da popula莽茫o. N茫o houve sustenta莽茫o das For莽as Armadas ou das for莽as policiais. O recuo foi r谩pido atrav茅s de nota do Presidente, aconselhado por Michel Temer. A poeira baixou, uma tranquilidade provis贸ria se instalou, e 茅 poss铆vel afirmar que n茫o haver谩 golpe.

Por outro lado, for莽as oposicionistas apontam o caminho do impedimento do Presidente da Rep煤blica. Embora crimes de responsabilidade tenham sido cometidos, duas outras pr茅-condi莽玫es para um afastamento n茫o est茫o dadas: mobiliza莽茫o social e maioria parlamentar. Lula e o PT n茫o t锚m interesse no impeachment. Muito menos o chamado 鈥淐entr茫o鈥, que constitu铆 a base parlamentar do governo e se instalou no cora莽茫o do poder. Um terceiro impeachment seria traum谩tico. Portanto, 茅 poss铆vel vislumbrar que n茫o haver谩 impeachment.

Daqui a dez meses, a sucess茫o presidencial estar谩 nas ruas, com os candidatos escolhidos pelas conven莽玫es partid谩rias. Tudo indica que teremos escaramu莽as, novas tens玫es, instabilidade permanente e a crise permanecer谩 irresolvida. A solu莽茫o vir谩 do pronunciamento soberano do cidad茫o brasileiro nas urnas, eletr么nicas. Felizmente, a democracia ser谩 o caminho de supera莽茫o da presente crise.

(*) Economista e consultor do ITV, foi deputado federal pelo PSDB-MG

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