Poderes paralelos

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As investigações da Lava Jato devem ir a fundo para separar os que assaltaram reiteradamente os cofres públicos dos que foram enredados injustamente neste torvelinho

A Operação Lava Jato completou três anos na semana passada. A iniciativa, que une uma força-tarefa em torno de Ministério Público, Polícia Federal e órgãos da Justiça, já escreveu capítulo fundamental da história brasileira contemporânea. Oxalá, o país será outro – e melhor – depois que todo este turbilhão tiver passado. Para isso, porém, é preciso evitar que as investigações se desvirtuem.

Nestes três anos, vieram à tona revelações que desvendaram uma gigantesca teia de corrupção que se apossou do Estado brasileiro. “Os crimes já denunciados na primeira instância envolvem o pagamento de propina de cerca de R$ 6,4 bilhões”, informa balanço divulgado pela força-tarefa da operação na última sexta-feira. Só em multas e acordos para recuperação de ativos estão envolvidos R$ 10,4 bilhões.

Mais: já foram oferecidas em primeira instância 58 acusações criminais contra 260 diferentes pessoas, das quais 26 já tiveram sentença por crimes de corrupção, tráfico transnacional de drogas, formação de organização criminosa, lavagem de ativos e contra o sistema financeiro internacional, entre outros. “Ao todo foram 130 condenações, envolvendo 89 condenados, contabilizando 1.362 anos, 5 meses e 21 dias de pena.”

Isso não livra as investigações, contudo, de críticas.

Na semana passada, veio a público o encaminhamento, ao Supremo Tribunal Federal, de uma lista de pedidos de abertura de 83 inquéritos por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR). O que estes documentos contêm ainda não é oficialmente sabido, mas os jornais se fartaram de informar que praticamente todas as principais lideranças políticas brasileiras das últimas décadas estão citadas lá.

O segredo de justiça previsto em lei só continuou existindo para parte dos citados pela PGR. Os nomes mais relevantes foram pinçados das investigações e vazados a jornalistas pelo próprio MP, segundo informou ontem a ombudsman da Folha de S.Paulo. Trata-se de revelação da maior gravidade.

Isso significa que há uma espécie de instituição paralela agindo sob o manto das instituições oficiais. São pessoas que, acobertadas pelo inviolável e sagrado sigilo da fonte, ditam o que vai ou não a conhecimento prévio do público. O pior é que, feito isso, a condenação da opinião pública torna-se quase absoluta, independente do desenrolar futuro dos fatos. Nas chamas desta fogueira ardem desde lenha mais vagabunda a toras de madeira de lei.

A Operação Lava Jato precisa continuar seu trabalho. As investigações devem ir a fundo para separar os que assaltaram reiteradamente os cofres públicos dos que foram enredados injustamente neste torvelinho. Mas, acima de tudo, está o direito de homens e mulheres se defenderem, para que não vejamos erigir-se um poder paralelo com capacidade de destruir reputações, não deixar pedra sobre pedra e arruinar o futuro do país.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1546

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