Pau na Máquina

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O país não tem como prescindir da indústria para superar a recessão. A saída está em impulsionar investimentos, reavivar a atividade nas fábricas e não repetir erros recentes

A indústria é a principal vítima da recessão-monstro que assola o país há três anos. O setor sintetiza os fracassos em série produzidos pela desastrada política econômica petista na última década. A recuperação da economia brasileira depende de os motores das máquinas voltarem a girar, o que pode, enfim, estar começando a acontecer.

As fábricas brasileiras produzem hoje 19% menos do que em junho de 2013, quando atingiram seu ápice, e o nível de atividade é o mesmo do início de 2009, ambos na série com ajuste sazonal. Nenhum outro segmento sofreu tanto nas mãos do PT.

Começam, porém, a surgir indícios de que o mergulho pode ter estancado. Ontem, o IBGE informou que em janeiro, depois de 34 meses seguidos, a indústria cresceu em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Há duas condicionantes que desestimulam comemorações mais efusivas: neste ano, o mês teve dois dias úteis a mais e valeu-se de uma base de comparação deprimidíssima. Mesmo assim, em seis meses o ritmo anualizado de queda caiu praticamente pela metade. De acordo com o Valor Econômico, as primeiras projeções para fevereiro também são positivas.

É certo que o país não poderá prescindir da indústria para sair da recessão. A economia brasileira só retomará algum ritmo mais consistente de atividade se a construção for reativada, se a produção de máquinas e equipamentos ressuscitar e se os investimentos (nomeados pelo palavrão “formação bruta de capital fixo”) voltarem a acontecer.

Será longa a jornada. Nunca antes na história, o país aplicou tão pouco no futuro: a taxa de investimento caiu a 16,4% do PIB, quando se sabe que qualquer economia minimamente em desenvolvimento não pode prescindir de percentual inferior a 25%. Em apenas três anos, a queda foi de 4,5 pontos percentuais.

Segundo as contas nacionais divulgadas anteontem pelo IBGE, a participação da indústria no PIB definhou para 21,2% e a do segmento de transformação, o de maior potencial e dinamismo, tornou-se minúscula: 11,7%, num retorno ao patamar vigente em meados do século passado.

Será preciso atenção especial e medidas dedicadas a reavivar o setor industrial, irradiando vigor para o resto da economia. Os fracassos recentes – muito bem retratados por Celso Ming e Zeina Latif na edição de hoje d’O Estado de S. Paulo – sugerem um cardápio do que não se deve fazer: protecionismo, isenções direcionadas, subsídios desmesurados etc.

A saída é outra: permitir que os investimentos, em especial os privados, voltem a florescer. O Brasil convive com uma infraestrutura depauperada que hoje atravanca quaisquer chances de crescimento. Com um programa bem direcionado de concessões e privatizações, o que hoje é empecilho pode se tornar alavanca e o país pode, finalmente, retomar a sua trajetória de desenvolvimento. A hora é, portanto, de pau na máquina.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1539 

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