Parou por quê?

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Corporações de todo tipo prometem parar o país hoje. Protestam pelos motivos errados de sempre, porque o que lhes interessa é manter benefícios, e não promover justiça social

Centrais sindicais, entidades profissionais e associações corporativistas de toda natureza prometem parar o país hoje. Teriam boas razões, e de sobra, para se mobilizarem, mas optam, como sói acontecer, pelos motivos errados. São estratos da sociedade que se interessam tão somente por manter seus privilégios e benefícios. Para eles, que se dane o Brasil.

Os alvos da hora são as reforma da Previdência e trabalhista. Pelo jeito, essa gente acha que tudo bem se as coisas continuarem do jeito que estão. Pelo jeito, consideram que um modelo de aposentadorias e pensões fadado à falência logo ali na esquina da próxima década deve ser mantido intocado e uma legislação que atravanca o emprego deve ser preservada.

O que está em jogo, e as corporações não parecem entender, nem se mostram dispostas a colaborar, é o futuro do país. Do jeito que estamos, ele é uma nuvem carregada; se não mudarmos, ele não chegará.

Bater-se contra a reforma da Previdência é defender um modelo financeiramente insustentável, mas, sobretudo, socialmente injusto. O sistema atual permite aposentadorias muitíssimo precoces, mas quem se beneficia desta faculdade são os assalariados mais bem pagos, mais qualificados, mais estáveis. Em suma, trabalhadores das classes mais altas.

Na outra ponta, os informais, os menos escolarizados, os de atividades que exigem menos qualificação já estão sujeitos a regras que a reforma agora estende a todos. Em português claro: trabalhadores mais pobres só conseguem se aposentar hoje no Brasil com idade mínima de 65 anos, a mesma que consta da mudança em discussão no Congresso.

Mas as centrais, as entidades classistas e as corporações não parecem ligar para os mais pobres. Como também não ligam para os brasileiros que não têm um emprego formal, uma carteira de trabalho assinada, um trabalho perene.

A reforma trabalhista visa retirar travas que hoje dificultam contratações à guisa de resguardar direitos dos que estão empregados. É o mesmo desequilíbrio que se verifica por parte destes grupos de pressão em relação ao sistema previdenciário: quem está dentro quer mais proteção e benefícios, quem está fora mantém-se excluído. Que justiça há nisso?

Nenhuma das reformas em discussão no Congresso deve ser considerada intocável. Como em todo processo reformista, é do embate de ideias e pontos de vista distintos que podem nascer as melhores soluções. Mas, para tanto, a discussão tem que ser de boa fé, voltada ao interesse público, em prol do país. Não é o que se vê de seus opositores.

Há carradas de razão para os brasileiros protestarem: mais ética, mais dignidade, mais eficácia na gestão pública, escolas que ensinem, hospitais que curem. Nada disso está na pauta dos que pretendem parar o Brasil nesta quarta-feira. O que interessa de fato a eles é que tudo permaneça como está, para que o que há de pior volte a prevalecer e a reinar.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1543

 

Brasília – Integrantes de movimentos sociais ocupam o Ministério da Fazenda em protesto contra as reformas da previdência e trabalhista (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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