O outono da presidente (Carta 941)

Publicado em:

Carta de Formulação e Mobilização Política, 20 de junho de 2014, No. 941

Dilma Rousseff vai de mal a pior. Suas perspectivas eleitorais são muito ruins e a avaliação sobre seu governo é cada vez mais negativa. A presidente está hoje tão mal quanto estava no auge das manifestações de junho do ano passado. Em alguns casos, consegue estar bem pior. A petista parece estar vivendo seu outono. Ontem o Ibope divulgou nova pesquisa de intenção de votos e de avaliação do governo. No aspecto eleitoral, mesmo com toda a superexposição produzida por sua estratégia de campanha, Dilma no máximo oscila. Dilma tem hoje os mesmos 39% de intenção de voto que tinha em 2010 quando faltavam quatro meses para as eleições que a sufragaram. Sua situação, antes e agora, porém, era muito distinta: lá estava em ascensão e representava a continuidade de um governo bem avaliado; cá, está numa claríssima descendente. A relativa manutenção das intenções de voto na presidente é fruto do desinteresse da população pelo processo eleitoral: nesta altura do campeonato, 55% dos entrevistados têm pouco ou nenhum interesse nas eleições de outubro. Ainda assim, já somam 43% os que dizem que hoje não votariam de jeito nenhum em Dilma Rousseff para presidente. Enquanto o cenário eleitoral pode resultar de desinteresse momentâneo, a evidente piora na avaliação do governo e da presidente é uma manifestação real, efetiva, posto que decorre da visão que as pessoas têm do que está acontecendo no seu dia a dia. Um, o voto, é decisão futura e, portanto, ainda postergada para depois. Outra, a avaliação de governo, é percepção presente, fruto da vivência cotidiana. E, naquilo que pensa de seu dia a dia, o brasileiro está claramente insatisfeito, contrariado, infeliz com as condições de vida que estão lhe oferecendo. Para começar, pela primeira vez na série do Ibope, tornou-se majoritário o contingente de pessoas que consideram o governo Dilma ruim ou péssimo. A avaliação negativa da gestão atual é feita por 33% dos entrevistados pelo Ibope, enquanto os que a consideram ótima ou boa somam apenas 31%. Nem no auge dos protestos do ano passado isso chegou a acontecer (na ocasião, houve rigoroso empate em 31%). Da mesma maneira, são maioria os brasileiros que desaprovam a maneira de a candidata-presidente governar: são 50%, contra 44% que ainda a aprovam. Neste quesito, isso se dá pela segunda vez na atual gestão: em julho do ano passado, Dilma também era mais rejeitada que aprovada (49% a 45%), situação que agora volta a acontecer. A mesma coisa se passa com o grau de confiança nela. Segundo o Ibope, 52% simplesmente não confiam na presidente que os governa, enquanto 41% mantêm a confiança. É a maior marca negativa neste quesito registrada por Dilma – em julho de 2013, a desconfiança também superava a confiança, mas em menor margem (50% a 45%). Em rigorosamente todas as nove áreas pesquisadas pelo Ibope, as políticas adotadas pela presidente Dilma são majoritariamente desaprovadas pelos brasileiros: educação, saúde, segurança pública, combate à fome e à pobreza, combate ao desemprego, meio ambiente, impostos, combate à inflação e taxa de juros. A pesquisa do Ibope foi realizada após a abertura da Copa, sugerindo, quem sabe, que a população em geral não compartilhou o repúdio aos péssimos modos da torcida no Itaquerão, como o PT se encarregou de tentar fazer todos crerem – embora sequer os mais destacados porta-vozes petistas, como Gilberto Carvalho, demonstrem acreditar em suas versões… O mais certo é que os brasileiros de fato compartilham a avaliação que o secretário-geral da Presidência da República externou entre militantes e ativistas amigos do PT: “(A percepção de que) Inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou.†A pesquisa do Ibope mostra que ele está coberto de razão.

 

Ponto de vista

Últimas postagens

[insta-gallery id="1"]

Instituto Teotônio Vilela: SGAS 607 Bloco B Módulo 47 - Ed. Metrópolis - Sl 225 - Brasília - DF - CEP: 70200-670