O Dragão Amansou

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Inflação confirma trajetória de queda e abre espaço para que país persiga metas mais ambiciosas, ao mesmo tempo em que a taxa de juros cai. Ficará faltando vencer a recessão

A inflação deu mais uma amostra de que, a partir de agora, deve mesmo ficar comportada. Se os preços se mantiverem quietos, a economia brasileira terá eliminado pelo menos uma de suas piores anomalias: a coexistência de carestia e recessão. É possível que tenhamos um problema a menos doravante.

O IBGE mostrou nesta manhã que o IPCA fechou fevereiro em 0,33%. É a mais baixa taxa para o mês desde 2000. Com o resultado, a inflação acumulada em 12 meses, aquela que baliza a política de juros do Banco Central, retrocedeu a 4,76%, a menor neste recorte em 17 anos. Os principais fatores para o resultado positivo foram os comportamentos dos preços de alimentos e bebidas.

Nos últimos meses, o movimento de baixa começou nos alimentos e disseminou-se por setores que durante longo tempo impediram o recuo da inflação no país. É o caso dos chamados preços administrados – em especial, tarifas públicas – e dos serviços.

A inflação dos administrados tombou de 17% no início de 2016 para perto de 4% agora. Recorde-se que a correção das tarifas, como energia elétrica e combustíveis, veio depois de anos em que o governo do PT as manteve artificialmente congeladas, justamente para tentar mascarar a alta generalizada de preços que assolava o país.

Já os serviços cedem agora sob o peso da crise econômica. Prevê-se para este ano a menor alta desde 2000, pouco acima de 4%, como reportou O Globo no início desta semana. Desde 2005, com exceção de 2015, os preços do setor – que responde por 35% do IPCA – sempre subiram mais que a inflação média, num comportamento de difícil reversão.

Sim, é claro que a recessão também tem participação no nocaute do dragão. Com desemprego recorde e salários contidos, a saída das famílias foi cortar fundo na sacola da feira e esvaziar o carrinho de supermercado. Com consumo menor, funcionou a lei de mercado e os preços caíram.

A política monetária também merece créditos pelo êxito. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, o país passou a contar com uma equipe econômica e uma diretoria do BC que não renegam o óbvio: inflação se combate e não se ignora ou mesmo se incentiva, como a cartilha petista tornara praxe. Uma das consequências é que, depois de sete anos indômito, o IPCA deve fechar 2017 abaixo da meta.

A mansidão do dragão abre espaço, ainda, para que o país persiga taxas de juros mais baixas, ancoradas, inclusive, em metas de inflação mais ambiciosas, como já se discute para 2019 e até mesmo 2018, em decisão do Conselho Monetário Nacional aguardada para junho. Se isso acontecer, mais uma esquisitice nacional terá sido exorcizada. Faltará apenas dar cabo à recessão.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1539

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