Na antessala do desemprego (Carta 963)

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Carta de Formulação e Mobilização Política, 07 de agosto de 2014, No. 963

O péssimo desempenho registrado atualmente pela indústria automobilística ilustra o tamanho da crise em que a economia brasileira está mergulhada. Também descortina no horizonte o fantasma das demissões. Podemos estar na antessala do aumento do desemprego. Se a política econômica adotada pelo governo Dilma Rousseff prestasse, as montadoras deveriam ser o último setor a enfrentar problemas. Foram o segmento mais contemplado com medidas de desoneração tributária nos últimos anos. Vê-se que as iniciativas de Brasília não passaram de remendos. Desde 2006 as fábricas de automóveis não produziam tão pouco num mês de julho. No ano, a queda acumulada supera 17%. No mesmo período, as exportações caíram 35% e as vendas, quase 9%, só devendo começar a se recuperar no fim de 2015, segundo O Globo. Se isso não é crise, o que mais poder ser? O setor automotivo fornece uma amostra das dificuldades da indústria brasileira como um todo. A queda na produção de veículos é responsável por 75% de toda a retração nacional da indústria no acumulado deste ano até junho, registra a Folha de S.Paulo. O lado mais perverso da moeda é o desemprego. Só as montadoras cortaram 7 mil vagas neste ano, o que equivale a 4,2% do total. Apenas em junho, a indústria como um todo fechou 28 mil postos. Além de milhares de postos de trabalho fechados, a indústria tem recorrido à suspensão temporária de contratos de trabalho. Os chamados layoffs, que podem perdurar até cinco meses, têm se tornado cada vez mais comuns. O passo seguinte são as demissões. Entre janeiro e julho deste ano, 12 mil trabalhadores entraram em regime de layoff, segundo O Globo. Neste particular, a situação só não é pior que a vivida em 2009, quando o país amargava a pior fase da crise global detonada no ano anterior. O governo, porém, insiste que não há nada de errado com a economia, com a indústria em particular, nem com suas políticas erráticas. Para o petismo, a crise é externa, jamais causada por razões internas. O problema não é apenas o diagnóstico errado. O governo nega que sejam necessárias correções de rumo na condução de sua política econômica, como fez Dilma ao participar de sabatina na CNI na semana passada. Sem admitir erros, não há como corrigi-los. As dificuldades que vão se alastrando expõem os limites dos pacotes de estímulos fabricados aos borbotões em Brasília nos últimos anos. Foram gambiarras, paliativos, algo que, define bem o dicionário Houaiss, serve apenas para “atenuar um mal e protelar uma criseâ€. Pelo jeito, o efeito passou e a dor agora pode vir mais forte.

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