Levy é só um detalhe

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Os petistas encontraram no ministro da Fazenda o bode expiatório ideal para o desastre que o PT patrocinou. Sem ele, querem ressuscitar a política que produziu a ruína atual

Carta de Formulação e Mobilização Política, 19 de outubro de 2015, Nº 1242

O PT parece ter predileção pelas turbulências. Com o país oscilando a cada semana entre a crise política e a crise econômica, os partidários da presidente da República acharam por bem agora pôr o ministro da Fazenda na berlinda. Os petistas não se contentam em ser governo; querem ser também oposição. É fato que a política econômica implantada por Joaquim Levy, apimentada pelas irresponsabilidades patrocinadas por Dilma Rousseff, não está chegando a bom termo. Mas a plataforma advogada pelos petistas, com Lula à frente, para a economia teria consequências indubitáveis: o fracasso retumbante. Nos últimos dias, o ex-presidente deu a senha e seus comandados abriram fogo contra Levy. Para eles, seria hora de o governo tirar do armário as mesmas políticas que, lançadas por Lula e aprofundadas por Dilma, produziram a ruína atual. Em suma, mais crédito, mais consumo e nenhuma preocupação com a inflação e com as contas públicas. Ontem, na Suécia, a presidente negou, contra todas as evidências recentes, que seu ministro da Fazenda esteja para cair. Assegurou que a política atual não será afetada. Resta saber até quando Dilma manterá a mesma opinião ou resistirá às investidas de seu tutor. Um dos maiores riscos é ela abandonar de vez qualquer compromisso com algum equilíbrio nas contas públicas, implodindo quaisquer chances de retomada da economia. Aos petistas, contudo, o que interessa mesmo é ter um bode expiatório para a profunda recessão em que seu governo mergulhou o país. Levy vem a calhar para o papel. Nada mais conveniente para a narrativa sempre esperta do PT ter alguém estranhíssimo ao ninho para carregar nas costas a culpa pelos anos de irresponsabilidades de Lula e Dilma. Não se pode perder de vista que a depressão econômica de agora começou muito antes de o atual ministro sequer imaginar que poderia ocupar a Fazenda num governo do PT. Mais precisamente, o Brasil está em recessão desde o segundo trimestre de 2014. O desastre, portanto, tem a chancela exclusiva dos petistas; a inconsistência das iniciativas tomadas desde as eleições de um ano atrás não fez mais que aprofundá-lo. Valessem as previsões de Dilma – de resto, sempre furadas – nesta altura sua política econômica já estaria produzindo crescimento, deixando a depressão para trás. O que aconteceu foi o contrário: a situação só piorou. E tende a piorar mais. O Brasil está inteiramente parado, inerte. Não será, no entanto, cedendo às propostas de Lula e seus petistas que o país vai encontrar algum rumo. A estrada para a recuperação passa por sendas que nem a atual presidente nem seu partido têm condições de trilhar, uma vez que não dispõem do principal ativo em falta no mercado: credibilidade para que se recupere a confiança no futuro do país. Joaquim Levy tornou-se apenas um detalhe neste descaminho.

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