De errata em errata (Carta 995)

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Carta de Formulação e Mobilização Política, 22 de setembro de 2014, No. 995

Errar é humano. Mas equívocos em pesquisas que servem para balizar análises e estudos e para definir políticas públicas são especialmente indesejáveis. Nos anos recentes, o IBGE vem se tornando protagonista de tristes episódios, saindo das páginas nobres do noticiário para as de escândalos. Na sexta-feira, o instituto divulgou uma errata de dados sobre desigualdade, rendimento, analfabetismo e desemprego que compõem a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), publicada um dia antes. Alguns melhoraram, como o índice de Gini, outros, não, como a taxa de analfabetos. Foi o suficiente para ressuscitar suspeitas sobre ingerências indevidas no órgão por parte do governo federal. O respeitável corpo técnico do IBGE vem alertando para a piora das condições de trabalho e o sucateamento da instituição, que vem perdendo mão de obra e recursos orçamentários. O número de servidores do IBGE caiu 14% desde o início da gestão Dilma: são mil pessoas a menos num quadro que agora soma 6.083 funcionários. Metade tem mais de 31 anos de casa, ou seja, está perto de se aposentar. O contingente de temporários mais que dobrou, para os atuais 4,4 mil, segundo o Valor Econômico. O facão também caiu sobre a verba prevista no Orçamento para o instituto em 2015. O dinheiro para pesquisa foi reduzido a menos de um terço: passou dos R$ 766 milhões inicialmente previstos para R$ 204 milhões. É menos da metade da dotação de 2014. As consequências se medem em termos de produção do órgão. Duas pesquisas importantes previstas para 2015 foram suspensas: a Contagem da População, uma espécie de prévia do Censo, e o Censo Agropecuário. A Pesquisa de Orçamentos Familiares foi adiada de 2014 para 2015. Esta, porém, não é a primeira crise braba que o IBGE enfrenta sob a gestão Dilma. Em abril, o governo anunciou a suspensão da realização da Pnad Contínua, que trouxera nova (e mais alta) taxa de desemprego no país. O rebu levou duas diretoras a pedir demissão e o governo acabou voltando atrás. Os funcionários do IBGE ficaram 77 dias em greve. Com isso, durante três meses (maio a julho) a taxa média de desemprego no país não pôde ser conhecida. Os relatos são de que trabalhar no instituto tornou-se algo “desumanoâ€. As condições pioraram e a qualidade das informações por vezes vê-se comprometida. Ontem, a presidente Dilma Rousseff classificou de “banal†o erro observado na Pnad. É atitude típica de quem desdenha da importância de órgãos quase seculares como o IBGE. A má gestão petista arranha a reputação, a credibilidade e a autonomia de instituições que são patrimônio do povo brasileiro.

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