Coveiros do País

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Corporações, castas de servidores, partidos, sindicatos e a ‘vanguarda do atraso’ foram fundamentais para sabotar e enterrar a reforma destinada a salvar a Previdência brasileira

Engana-se quem julga que o enterro da reforma da Previdência é uma derrota para o governo Michel Temer. Quem perde de verdade é o país. A aprovação das mudanças é fator necessário, ainda que insuficiente, para repor as contas em ordem, dar horizontes mais longos para a economia e permitir que o Brasil reencontre o equilíbrio e a responsabilidade. Negar isso é negar o óbvio.

São muitos os coveiros da reforma – mais correto será tratá-los como coveiros do país -, gente que nessa hora deve estar comemorando e se vangloriando. Devem achar que venceram uma guerra, mas se uniram mesmo foi para sabotar as perspectivas de um futuro melhor. É imperativo que a população saiba quem são. É preciso nominar quem agiu como algoz do povo brasileiro.

Em primeiríssimo lugar estão as corporações encasteladas no serviço público. Estão entre os mais bem pagos trabalhadores do país, mas se julgam injustiçados por ter de cumprir regras iguais às do resto dos mortais. Conseguiram, pelo menos por ora, manter intactos seus privilégios. Continuarão a receber aposentadorias polpudas, muito maiores do que a média da população e muito mais cedo.

Dentro desse grupo, nenhum foi mais deletério que o de procuradores da República. O escândalo forjado em maio passado em torno da delação dos irmãos Batista – que a cada dia torna-se mais evidente – golpeou a possibilidade de sucesso de uma reforma realmente ampla, do tamanho necessário, e tornou mais remotas as chances de qualquer mudança.

Claro que a “vanguarda do atraso” não poderia deixar de cerrar fileiras com a casta de privilegiados contra um sistema mais justo e equilibrado de aposentadorias e pensões no país. Aí entram partidos políticos, sindicatos, acadêmicos e “intelectuais” (põe aspas nisso) alinhados ao governo defenestrado do PT.

Para essa gente, a reforma era falsa e desnecessária. Sua receita é realmente outra: a mesma que afundou o Brasil no caos, que esperam ver ressuscitada por algum candidato a honrar o legado lulista em outubro. É o velho time do famigerado “quanto pior, melhor”.

Mas também faltou apoio às mudanças do lado dito reformista. A base política do governo no Congresso foi bem menos combativa, incisiva e dedicada do que a situação exigia. Sobraram oportunismo e covardia em muitos parlamentares, mais preocupados com o próprio umbigo do que com o país. Para estes, a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro – que criou um entrave legal à reforma – acabou soando conveniente. Têm, portanto, seu quinhão no velório. Por fim, o próprio governo tem sua parcela de responsabilidade, por ter, em momentos cruciais, demonstrado menos garra e mais tibieza do que a situação exigia.

A reforma desenhada pelo atual governo morreu, mas a necessidade de alterar as regras que orientam um dos mais injustos e crescentemente desequilibrados sistemas de concessão de aposentadorias e pensões do mundo permanece. Fica para quem for eleito em outubro a tarefa de fazer um ajuste ainda mais profundo na Previdência. Contra quem quer que seja.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1740

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