Baixa Diplomática

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A gestão Temer perde com a saída de José Serra, mas tem caminho aberto para seguir uma política externa pautada estritamente pelos interesses do Brasil, e não por motivações ideológicas

O governo Michel Temer perdeu ontem seu oitavo ministro. Foi uma baixa significativa, motivada por questões de saúde. Nestes nove meses de gestão, José Serra reorientou a política externa brasileira e ajudou a reatar o país ao mundo. O tucano deixa um caminho aberto para que o Itamaraty tenha atuação pautada estritamente pelos interesses nacionais, e não pelas motivações ideológicas que marcaram o governo anterior.

Em carta divulgada ontem, o chanceler informou que deixou o cargo para cuidar da saúde. Problemas na coluna vinham dificultando sua agenda, calcada necessariamente numa exigente rotina de viagens de longa duração pelo mundo afora. Em dezembro, Serra passou por cirurgia que deveria ter sido seguida de tratamento rigoroso, feito, contudo, de modo insatisfatório nas últimas semanas.

Passados nove meses, o Itamaraty é outro em relação ao que existia no governo petista. Nossa diplomacia abandonou a política de anos de alinhamento a regimes autoritários e bolivarianos, como Venezuela e Cuba, e voltou suas atenções às economias mais dinâmicas do globo. Além disso, imprimiu mais ímpeto à integração regional no âmbito do Mercosul, retomando a linha iniciada por Fernando Henrique Cardoso, ainda no governo Itamar Franco, e seguida pelos chanceleres do governo tucano.

O principal lance da atual política externa brasileira foi garantir que as regras do bloco regional fossem de fato cumpridas. Isso culminou na punição do governo venezuelano com a suspensão do Mercosul, ao qual aderira em agosto de 2012. Sem cumprir mais de 200 cláusulas e 40 acordos nestes quatro anos, e, em especial, por reiteradas agressões a princípios democráticos, a Venezuela foi afastada provisoriamente em dezembro passado.

O foco do Itamaraty de hoje é reavivar a agenda de integração global e de promoção comercial do Brasil no exterior. Em sua última viagem como ministro das Relações Exteriores do Brasil, à Alemanha na semana passada, Serra buscou estreitar relações com o novo governo norte-americano. Também duplicou esforços para acelerar o acordo de livre-comércio que, há quase duas décadas, Mercosul e União Europeia cozinham sem chegar a bom termo.

Nesse sentido, o Itamaraty também ganhou novo protagonismo na área de promoção comercial do país no exterior. Com a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) agora incorporada à estrutura do ministério, em agosto passado Serra lançou o programa “Be Brasilâ€, voltado a atrair investimentos estrangeiros para o país paraajudar na retomada do crescimento e na geração de empregos aqui.

A gestão Temer perde com a saída de José Serra, um dos quadros mais preparados do atual governo que agora retomará seu mandato no Senado. A exemplo da Câmara, a Casa tem o compromisso de discutir e aprovar uma série de reformas estruturais nos próximos meses.

À nossa diplomacia, restará perseverar na boa trilha de atuação em prol dos interesses do Brasil, como é da tradição do PSDB.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1532

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