
A Reforma Necessária
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Mudanças eleitorais em discussão no Congresso ainda estão longe de responder ao distanciamento entre representantes e representados
Sempre que o Brasil mergulha nalguma crise da qual ninguém faz ideia de como sair, a reforma polÃtica surge como solução. Não é: trata-se de debate relevante, mas não tem o poder de curar todos os males do paÃs. No momento atual, é preciso construir alternativas que tenham como prioridade uma transformação profunda na maneira com que representantes e representados se relacionam.
É evidente o distanciamento do mundo da polÃtica em relação ao cotidiano dos cidadãos. Eleitores não se veem representados pelos eleitos, pondo em risco a legitimidade de governos e legislativos. Sem superar esta dissociação, o paÃs não encontrará saÃdas – ou, por outra, poderá enveredar pelas erradas.
Neste sentido é tão oportuna quanto necessária a discussão de novas regras eleitorais em andamento no Congresso. Os resultados palpáveis até agora, contudo, estão longe do que se almeja. Por ora, as discussões se concentram na adoção do sistema eleitoral chamado de “distritão”, em substituição ao modelo proporcional, e na criação de um fundo de financiamento das eleições.
O “distritão” está sendo colocado como transição para adoção do sistema distrital misto, pelo qual os candidatos seriam eleitos por meio de listas e por distritos, a partir de 2022. Ainda que uma simulação com os votos e os parlamentares eleitos em 2014 mostre que apenas 9% dos atuais deputados federais não teriam obtido uma cadeira na Câmara por este modelo, trata-se de um sistema exageradamente personalista, pouquÃssimo adotado mundo afora – o exemplo mais notório é o Afeganistão -, e que pode frustrar a expectativa da sociedade por um parlamento de melhor qualidade a partir de 2019.
Já o fundo está sendo criado em razão de uma decisão do Supremo Tribunal Federal que decretou o fim do financiamento privado das campanhas. Democracia tem custo e ele deve ser bancado de alguma forma. No entanto, diante do atual quadro fiscal do paÃs, a proposta em discussão precisa ser aprimorada, de modo a reduzir ao máximo as despesas de campanha e buscar alternativas para financiá-las. Em vez de resolver problemas, um fundo partidário desproporcional como o colocado criará novos distanciamentos entre a população e a classe polÃtica.
O efetivo aumento da representatividade polÃtica passa pelo fortalecimento dos partidos e, sobretudo, pelo fim do balcão em que se transformou a proliferação de legendas de aluguel que colaboram para distorcer a vontade do eleitor. Nada disso está sendo frontalmente atacado.
Neste sentido, é fundamental avançar com a proposta de emenda constitucional que proÃbe as coligações em eleições proporcionais (deputados federais, estaduais e vereadores) e impõe cláusula de desempenho que vincula o acesso dos partidos a recursos públicos e estruturas legislativas a percentuais mÃnimos de votos.
O que a polÃtica precisa, com urgência, é virar-se para a sociedade e responder aos anseios que os cidadãos alimentam, mas que vêm sendo frustrados por um distanciamento que só cresce. A reforma em discussão no Congresso não será panaceia para os problemas brasileiros, mas é o passo inicial sem o qual não chegaremos a lugar nenhum.
– Carta de Formulação e Mobilização PolÃtica N. 1635
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