A força dos brasileiros (Carta 1100)

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Carta de Formulação e Mobilização Política, 16 de março de 2015, No. 1100

As manifestações deste domingo são a prova do vigor da cidadania, da autonomia e da vontade de melhorar o país expressa por milhares de brasileiros que foram às ruas. Há no ar uma clara sensação de que os grilhões e as mordaças que, durante anos, coibiram as críticas se romperam de vez. É um turbilhão de mudanças que se anuncia. Não importa o método. Qualquer que seja a contabilidade, os protestos pacíficos, fraternos e ordeiros deste domingo foram um sucesso retumbante. De acordo com cálculos das polícias militares, cerca de 2 milhões de pessoas ocuparam as ruas ontem. Mesmo estimativas mais conservadoras confirmam: foi a maior mobilização desde as Diretas Já, ocorridas há 30 anos. Os atos críticos ao governo de Dilma Rousseff deram um banho nas manifestações chapa-branca ocorridas na sexta-feira. O PT e seus satélites, como CUT, MST e UNE, não conseguiram levar mais que 33 mil pessoas às ruas de todo o Brasil, ainda assim muitas delas recrutadas à custa de algum pagamento ou de muito constrangimento. Significativo que, mesmo entre os supostos apoiadores da presidente que foram às ruas em São Paulo na sexta, 63% consideram que ela sabia da corrupção na Petrobras, empresa na qual Dilma comandou o conselho de administração durante oito anos, os mais plenos de tenebrosas transações. Se o governismo pensa assim, imagine o resto… As manifestações deste domingo jogaram por terra o argumento falacioso do PT de que só a “elite†critica Dilma e seu governo. Não: nas ruas estava gente de todas as classes, todas as raças, todos os credos, unidas por um sentimento de respeito ao Brasil. Isso os petistas, acostumados a suas massas de manobra, parecem incapazes de compreender. Grosso modo, levando em conta o balanço dos dois protestos, para cada pessoa disposta a gritar a favor do governo petista – ainda que com ressalvas – há 60 prontos a pedir mudanças e lutar por um Brasil melhor, livre da corrupção e dos atrasos que sobressaem no país nos últimos anos. Desta vez, diferentemente das jornadas de junho de 2013, o desejo expresso pelos manifestantes não era difuso, nem era por meros 20 centavos… Desta vez, não houve dúvidas: o objetivo é um só, combater o governo de Dilma, Lula e o PT. É um sentimento indubitável de clara aversão ao grupo que está no comando do país há 12 anos. Atônito, o governo reagiu – se é que cabe o verbo – por meio de dois ministros que mais pareciam saídos, trucidados, de uma guerra. A réplica oficial veio na forma de mais do mesmo: promessa de reforma política com fim do financiamento privado das campanhas e um pacote de projetos anticorrupção. Se alguém já esqueceu, são as mesmas coisas que Dilma prometeu em junho de 2013. Também por isso, a resposta veio mais uma vez em tempo real, na forma de mais um panelaço. Quanto ao financiamento privado, vale lembrar: em 2013, ano sem eleições, o PT recebeu R$ 79 milhões em doações de empresas, mais que o dobro dos três outros principais partidos (PSDB, PMDB e PSB) somados. Nas eleições do ano passado, foram R$ 318 milhões para Dilma, quase 60% mais que o total arrecadado por Aécio Neves. Na condição de um dos porta-vozes de Dilma, Miguel Rosseto menosprezou os atos de ontem por, supostamente, só reunirem “setores críticos ao governo†e “eleitores de oposiçãoâ€. É como se só valesse, na visão do ministro – cuja credencial mais notável é manipular movimentos sociais – a opinião dos que são a favor, e que, ele acaba por admitir, são hoje franca minoria no país. A verdade é que o governo da presidente petista simplesmente não sabe o que fazer para dar resposta ao povo. Ou melhor: o que tem a oferecer não é o que a população quer. O que os brasileiros foram ontem às ruas reivindicar, o PT é incapaz de produzir: mais decência, mais honestidade, mais ética, mais eficiência. Para responder ao vigoroso movimento da cidadania que ontem se fez presente em 185 cidades do Brasil, não é preciso fazer mais que o básico. A começar pelo aprofundamento das investigações e punições aos envolvidos em corrupção, sejam eles quem forem, de que partido forem. A pauta da cidadania também inclui a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, impedindo que o arrocho proposto pela presidente petista avance no Congresso. Não será cortando benefícios de quem menos tem e aumentando impostos de quem trabalha e produz que o país sairá da crise em que o PT nos meteu. Na agenda mínima está, ainda, a cobrança por medidas de combate à inflação, que corrói salários, dissemina a carestia e dificulta a vida. Exige-se, por fim, melhor aplicação do dinheiro pago pelos contribuintes e redução dos desperdícios de recursos públicos, marca indelével do petismo desde Lula. Nas cordas, o governo balbucia que quer diálogo. Não é necessário. Basta que aja como o povo cobra nas ruas. Basta que respeite os sentimentos legítimos dos brasileiros que sonham com um país melhor. Como se pode perceber, não é muito o que a população espera de seus governantes, mas é demais para o que o PT consegue oferecer. Não é difícil concluir que o que aconteceu neste domingo não foi apenas mais uma manifestação, mais um ato isolado ou um protesto sem consequências. Foi, isto sim, um episódio que marcará definitivamente uma nova fase da história brasileira, um novo alento para nossa democracia. A mudança começou. Agora é só não se dispersar.

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