
A cultura do atraso (Carta 977)
Publicado em:
Carta de Formulação e Mobilização PolÃtica, 27 de agosto de 2014, No. 977
Entre os aspectos que mais marcam a vida brasileira nos últimos anos está a frustração. O futuro prometido quase nunca chega. A promessa reiteradamente repetida jamais é cumprida. Atrasos e descompromisso são as marcas de um governo que se especializa em ludibriar a população. Há diversas formas de ilustrar a inépcia da gestão de turno em executar aquilo que dela se espera. Seja com as obras que deveriam melhorar a vida de milhões de brasileiros, mas não acontecem e só se perpetuam como canteiros eternamente inacabados. Seja, também, nos serviços públicos que continuam a piorar. Um bom instrumento para aferir como a administração da presidente Dilma Rousseff cuida das lides de governo são os balanços de prestação de contas do Programa de Aceleração de Crescimento, o PAC. Se o programa é o carro-chefe da atual gestão, espera-se que espelhe aquilo que os petistas consideram o suprassumo de seu governo. Segundo a contabilidade federal, o PAC engloba mais de 50 mil obras e ações, distribuÃdas por eixos. De acordo com balanço de março, menos de 20% delas estavam prontas. Considerando que o pacote de promessas atual nasceu em 2011, reciclando compromissos originários de 2007, conclui-se, sem nenhuma dificuldade, que estamos longe de algo brilhante… As obras consideradas estruturantes, ou seja, aquelas com capacidade para espraiar benefÃcios por territórios mais amplos e atingir maior número de pessoas, sofrem atrasos médios de 88%, segundo levantamento feito pela consultoria Inter.B publicado por O Estado de S. Paulo no domingo. Significa dizer que demoram, em média, quase o dobro do tempo originalmente estipulado. Decorrência direta, os custos também escalam e aumentam até 64%. Mas há casos em que o céu é o limite, como o da refinaria Abreu e Lima, exemplo daquilo com que se deve “aprender para não repetirâ€, conforme palavras da principal executiva da Petrobras. Segundo publica hoje O Globo, a mais cara refinaria já feita em todo o mundo foi tocada à revelia da área técnica da empresa, ignorada pelo conselho de administração comandado por Dilma. De acordo com os parâmetros desdenhados pela direção da estatal, Abreu e Lima só seria viável se custasse metade do que custará – valor que equivale a quase dez vezes seu orçamento inicial. Esta cultura do atraso precisa acabar. Obras precisam ser feitas levando em conta a sua real necessidade, seus custos efetivos e sua viabilidade técnica. De uns anos para cá, a ausência de bons critérios se tornou a tônica. Para o pessoal do governo, importa é fazer como der, até porque o interesse está longe de ser o público. Atrasar acaba sendo bom negócio.
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