Vigor Externo

Publicado em:

Setor que contempla as transações com o resto do mundo é o único da economia brasileira que ainda mantém força em meio às turbulências geradas a partir da crise política

O prolongamento da crise política está golpeando as chances de retomada mais robusta da economia brasileira. As perspectivas de crescimento, que já eram tímidas, começam a definhar, as dificuldades fiscais estão se avolumando e, pior, o retorno da geração de empregos fica ainda mais comprometido.

O único impulso mais vigoroso tem vindo do setor externo da economia. Os resultados obtidos pelo país nas transações com o resto do mundo estão melhores do que se projetava até pouco tempo atrás. Em maio, as contas externas registraram saldo recorde de US$ 2,9 bilhões. É o terceiro superávit mensal consecutivo e o maior para meses de maio desde 1995.

As contas externas expressam os resultados do comércio exterior, o fluxo de pagamentos e transferências, os investimentos diretos no país e a entrada de dólares para aplicações no mercado financeiro. Quanto maior o saldo (ou, mais realisticamente, quanto menor o déficit), maior o conforto para a economia local.

O déficit registrado em 12 meses despencou para US$ 18 bilhões, menos de 1% do PIB. A situação contrasta sobremaneira com o passado recente. Em fins de 2014, o rombo batera em US$ 104 bilhões e, em abril de 2015, chegou à marca de 4,4% do PIB. Economias nestas condições tornam-se extremamente vulneráveis a quaisquer oscilações de humor no mundo. Os ventos, felizmente, mudaram.

A balança comercial tem sido a principal alavanca do bom desempenho externo brasileiro até o momento. Até maio, o país acumula saldo de US$ 29 bilhões, o maior da série histórica para o período e 47% maior que há um ano. O resultado de maio, que ajudou a impulsionar as contas externas do país, foi o melhor para qualquer mês do ano desde 1989.

Os investimentos diretos no país também estão no nível mais alto para o período desde 2014. Somam US$ 32 bilhões até maio e US$ 80 bilhões em um ano. Cobrem, com folga, o déficit nas transações correntes do país. O resultado do mês passado foi, contudo, o menor para maio desde 2009, ano da crise econômica global. Não dá para descartar que já possa ser reflexo do azedume da crise política.

O setor externo ilustra a capacidade que a reversão de expectativas costuma ter no ânimo dos agentes econômicos. A simples mudança de governo, há menos de 14 meses, ajudou a revigorar exportações e parece ter colaborado para atrair nova leva de investimento estrangeiro – até porque abundam recursos ao redor do mundo.

A resiliência da economia brasileira ora está sendo testada na crise que ameaça desaguar em mais uma mudança de governo. Combalida por três anos de recessão, sua capacidade de recuperação torna-se ainda mais tênue no ambiente tumultuado que se formou a partir de Brasília. Se já não é fácil produzir e gerar emprego no Brasil, torna-se ainda menos sob chuvas e trovoadas que ninguém sabe como, nem quando, vão parar.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1614

Ponto de vista

Últimas postagens

Instituto Teotônio Vilela: SGAS 607 Bloco B Módulo 47 - Ed. Metrópolis - Sl 225 - Brasília - DF - CEP: 70200-670