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Ausência de reformas e resultado das eleições de 2018 colocam sob risco a manutenção da queda da taxa de juros, anomalia da qual a economia brasileira está conseguindo se livrar

Das anomalias que marcam a economia brasileira, as altas taxas de juros talvez sejam uma das mais perversas. Distorcem a alocação de recursos disponíveis, consomem dinheiro público escasso, embotam investimentos produtivos e travam a geração de renda e empregos. Quem sabe, esta aberração esteja começando a ficar no passado.

Os juros básicos caíram ontem à menor taxa de que se tem registro no país, ou seja, desde 1999. São agora de 7% ao ano, o que apenas um ano atrás parecia miragem – em outubro de 2016, a Selic alcançava 14,25%, patamar que já vinha de um ano antes. É evidência de que, uma vez adotadas as políticas adequadas, o país tem condição de tomar o rumo certo.

Um dos efeitos positivos mais diretos do juro baixo está no gasto público. Com a Selic menor, o Tesouro Nacional já deixou de torrar R$ 52 bilhões com a rolagem da sua dívida até setembro. Com a taxa básica agora se igualando à TJLP, o governo também economizará mais R$ 27 bilhões apenas com fim de subsídios públicos a créditos.

Do lado privado, dinheiro que estava esterilizado em títulos públicos tende a buscar ativos reais e de maior risco. A procura por crédito aumenta. Ganham a produção e a economia. As empresas lucram mais, distribuem dividendos e empregam.

O atual ciclo de baixa da Selic começou em outubro do ano passado, tão logo o Banco Central emitira sinais mais contundentes de que não toleraria a inflação alta. A atitude diferia da assumida pela gestão anterior, para a qual um aumentozinho a mais nos preços não doía. Tanto doía, que se tornara, junto com o desemprego, mais um dos tenebrosos componentes da recessão petista.

Em trajetórias coincidentes, desde então inflação e juros foram convergindo. Se estes estão agora na sua mínima histórica, aquela desceu a patamar abaixo do piso da meta estipulada para o ano – encontra-se em 2,7% nos 12 meses até outubro, depois de ter batido em 10,7% em janeiro do ano passado. Ou seja, desta vez a política monetária funcionou – de maneira distinta do artificialismo e do voluntarismo que caracterizaram a queda na marra da taxa básica empreendida por Dilma em 2012.

A Selic deve cair ainda mais um naco no início de 2018. O 11° corte consecutivo pode ser maior ou menor a depender da aprovação ou não da reforma da Previdência, crucial para o controle dos gastos públicos. Mas daí não deve passar. Terá, se isso se confirmar, encostado numa taxa real de 2,5% ao ano, de bom tamanho para economia ainda tão desequilibrada quanto a brasileira, mas ainda alta quando se tem em conta que nas economias desenvolvidas, na média, o juro encontra-se perto de 0%.

As apostas são de que a mínima histórica não deve durar muito tempo, com a taxa voltando a subir em fins de 2018 com o provável reaquecimento da economia, do mercado de trabalho e dos preços. As principais ameaças, contudo, são menos benignas. Os riscos maiores estão na frustração das reformas e no destino que caberá ao país após as eleições presidenciais de 2018.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1711

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