Pau nos juros

Publicado em:

Risco político dificulta queda da Selic, mas Copom precisa perseverar nos cortes. É na perna fiscal, com a ameaça sobre as reformas, que repousam as maiores ameaças

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central tem hoje uma difícil decisão pela frente: definir qual ritmo deve ter a queda da taxa básica de juros doravante. A redução da Selic é condição necessária para que o país prossiga sua trilha de retorno à normalidade e reencontre o caminho do crescimento, mesmo que as condições políticas não ajudem.

Em termos objetivos, a autoridade monetária tem boas razões para acelerar os cortes, iniciados em outubro do ano passado. A expectativa até a fatídica quarta-feira, 17, em que vieram à tona gravações de conversa do presidente Michel Temer com o réu confesso Joesley Batista era de ampliação da queda da taxa básica.

Até agora, a Selic foi cortada em três pontos percentuais, baixando de 14,25% para 11,25% ao ano. As apostas predominantes apontavam a possibilidade de a reunião desta quarta-feira terminar com o Copom anunciando nova redução, desta vez de 1,25 ponto percentual, o que colaboraria para jogar mais gasolina no motor do reaquecimento econômico. Pode ser que não chegue mais a tanto.

O alvo da política monetária chancela cortes mais ousados. Na reunião do Copom de abril, as previsões colhidas junto ao mercado por meio do boletim Focus indicavam inflação de 4,09% neste ano e de 4,46% em 2018. Ambos, portanto, dentro, ou até abaixo, da meta. Hoje, os prognósticos para o IPCA são ainda mais benignos: 3,95% e 4,40%, respectivamente. Ou seja, desde a última reunião, o juro real subiu.

O país deve passar os próximos meses convivendo com algo impensável até pouco tempo atrás: queda nos índices de preços. O Brasil não vê deflação mensal há mais de uma década, mais precisamente desde o -0,21% de junho de 2006. No atacado, os índices mais recentes já mergulharam em terreno negativo. Devem colaborar para o recuo a redução dos preços de combustíveis, a estabilidade das tarifas de energia e o contravapor da recessão.

O problema maior do Copom está do outro lado da esplanada que divide ministérios e órgãos públicos em Brasília, onde se determina o ritmo dos gastos do governo. É a perna fiscal a que mais ameaça a continuação da estratégia de corte dos juros. Por ora, mesmo com forte contenção de despesas, o rombo nas contas públicas, oriundo de um desequilíbrio cavalar legado pelo PT, permanece.

O risco político não colabora. É ponto pacífico que o país só conseguirá domar minimamente o galope dos gastos se lograr reformar partes consideráveis de suas despesas obrigatórias, em especial aquelas com pagamento de aposentadorias e pensões. Neste sentido, repousa sobre o sucesso da reforma da Previdência a principal incógnita acerca da continuidade do corte de juros.

Tudo indica que, em momento de turbulência como o atual, o Copom deve preferir esperar para ver antes de engatar cortes mais ousados na Selic. Prudência é sempre a receita básica de qualquer Banco Central. Mas a perspectiva de levar os juros básicos de volta a um patamar civilizado não pode ser abandonada ao primeiro abalo. Cortar mais é preciso.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1595

Ponto de vista

Últimas postagens

Instituto Teotônio Vilela: SGAS 607 Bloco B Módulo 47 - Ed. Metrópolis - Sl 225 - Brasília - DF - CEP: 70200-670