O que a Vida Quer é Decência
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A corrupção é um dos nossos maiores males, mas não é o pior. O Brasil só conseguirá sair do atoleiro se conseguir, sobretudo, reanimar a economia
Milhares de pessoas voltaram ontem à s ruas do paÃs. Desta vez, as multidões não protestaram contra o governo. Mobilizaram-se, sobretudo, a favor da decência e em defesa da preservação dos avanços saneadores que o Brasil vem alcançando a partir do trabalho de suas instituições, em especial as reunidas em torno da Operação Lava Jato.
Houve protestos em todas as unidades da federação, reunindo entre 75 mil e 480 mil pessoas, conforme a fonte das estimativas. Entre os alvos mais explÃcitos estavam os presidentes do Congresso, senador Renan Calheiros, e da Câmara, Rodrigo Maia. Um dos cernes da mobilização foi a defesa da Lava Jato.
O que os brasileiros continuam pedindo é que a polÃtica se reaproxime das pessoas. Que o interesse público seja o norte e não mera figura de retórica que serve para encobrir desmandos. A luta é pela ampliação da cidadania, pela restauração da ética, pelo fim da corrupção.
Nesse tempo novo, a polÃtica não se faz mais apenas nos espaços e instâncias tradicionais. A arena de discussões se ampliou e ganhou dimensões globais com a interação possibilitada pela internet e pelas redes que se interconectam e se retroalimentam. Mudou o algoritmo da polÃtica, como sintetizou Fernando Henrique Cardoso em artigo para o site Poder 360.
“Exigem-se novas formas de diálogo, em substituição à s reuniões fechadas e aos tradicionais discursos onde um lÃder fala e a plateia escuta. Agora, munidos de ferramentas de comunicação extraordinárias todos querem falar, e mais ainda, querem ser ouvidos pelo mundo do poder. Goste-se ou não, é assim que está funcionando.”
É preciso que os governantes e os parlamentares se deem conta do que a população e a cidadania esperam deles. Saiam da letargia e girem o botão da sintonia para religar-se à sociedade. Passem longe, por exemplo, de repetir o vexame da semana passada, quando o pacote anticorrupção apoiado por 2 milhões de assinaturas foi estropiado na Câmara.
Chegou-se a tal nÃvel de desfaçatez nos últimos anos que todos cobram agora uma radicalização moralizadora. E, como todo extremo, à s vezes ela carrega exageros inaceitáveis. Ocorre que, no clima atual, não basta a honestidade; é preciso mostrar-se cabalmente honesto. Qualquer iniciativa que soe contra a limpeza é rechaçada com vigor.
Nossa democracia tem demonstrado força para manter o curso dos acontecimentos no leito da preservação das liberdades, da conquista de direitos e do respeito às instituições. Assim deve continuar sendo. Só uns poucos celerados não comungam destes valores absolutos, e devem continuar sendo só isso mesmo: uma minoria irracional.
O que é preciso ficar claro é que a corrupção é hoje um dos nossos maiores males, mas não é o pior. O Brasil só conseguirá sair do atoleiro em que foi jogado pelas gestões do PT se, sobretudo, conseguir reanimar a economia, voltar a produzir e gerar empregos. E isso se consegue não só com mais decência, mas especialmente com a eficiência da boa gestão e a serenidade da boa polÃtica.
– Carta de Formulação e Mobilização PolÃtica Nº 1491