Nem Todos São Iguais

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Abre-se agora a possibilidade de passar o país a limpo, segregar joio e trigo, reinstaurar a boa política. Que se faça justiça e que quem errou seja punido, como determina a lei

A primeira tentação é de dizer que são todos iguais. A segunda é de afirmar que a avalanche de acusações só prova que o país foi sempre assim, sujo, corrupto. A terceira, de que a solução está fora da política – e até mesmo contra a política. As três levam a respostas erradas.

A abertura de 83 inquéritos determinada ontem pelo ministro Edson Fachin inaugura uma nova e importante temporada nas investigações iniciadas há três anos no âmbito da Operação Lava Jato. É dolorosa, porém necessária e até bem-vinda.

Com a divulgação agora oficial, abre-se a possibilidade aos citados de provar, com o andamento das apurações, que não cometeram ilícitos, que agiram em conformidade com a lei, que não se locupletaram com recursos públicos, que não são parte de um gigantesco sistema de corrupção.

Ou, se não o fizerem, que sejam punidos como manda a lei, com o rigor da lei.

Mais que nunca, é fundamental que as instituições funcionem, que as prerrogativas constitucionais sejam respeitadas.

É imperativo, a fim de que não haja cerceamento, nem juízo prévio, que seja garantido o amplo direito de defesa e assegurado o exercício do contraditório. Que se faça, tão somente, justiça.

O pior era a infinda continuação de um temor paralisante que constrangia a todos. Às claras, as condições de jogo tornam-se mais equilibradas, sem a vantagem que beneficiava os que, na névoa, se valiam do acesso privilegiado a informações, transformadas em adagas sobre a cabeça dos acusados.

Terminam os rumores e as especulações que se seguiram às dezenas de delações de alguns dos principais envolvidos no esquema apurado a partir de Curitiba.

Começam as prolongadas, mas imperativas, investigações que irão passar o país a limpo, segregar joio e trigo, reinstaurar a boa política.

Será hora de demonstrar que não, não são todos iguais; não, o país não foi feito sempre e apenas de lama.

Será também o momento de dedicar-se a reformar um modelo que, no mínimo, alimenta tantas suspeitas e, no máximo, abre espaço para tantas falcatruas.

Há cidadãos que diariamente trabalham duro por uma vida melhor. Há pessoas que não se deixam seduzir por atalhos fáceis de poder. Há a política que transforma, constrói e renova, e não corrompe. Há muitos, a maioria, que querem apenas que prevaleça o esforço, o respeito, a ética, o direito, mas também o dever.

Há todo um país para o qual ontem foi apenas mais um dia – de esforço, de luta e de dedicação cotidiana. É este o Brasil que vai continuar existindo e que fará do amanhã um dia certamente melhor do que hoje.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1563

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