Ensino Acima da Média

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Merece ser bastante comemorada a aprovação da reforma do ensino médio, ocorrida ontem. Com o novo sistema, o Brasil caminha para se aproximar dos modelos mais bem-sucedidos no mundo e, quem sabe, poderá vencer a defasagem que nossos alunos hoje experimentam. O país começará também a ofertar aos jovens brasileiros o que eles efetivamente almejam com a educação.

A medida provisória sobre o tema foi aprovada ontem pelo Senado e agora segue para sanção presidencial. O instrumento legal escolhido para promover as mudanças, vá lá, não foi dos melhores, mas a situação cobrava urgência, e é bastante relevante sem sombra de dúvida. A reforma poderia ter sido mais debatida? Podia. Mas é preciso ter presente que há anos tramitam no Congresso propostas com teor similar que não saíam do lugar. Era preciso avançar.

Há quem prefira ver só dificuldades, mas vale muito mais a pena enxergar as largas possibilidades que se abrem com o novo modelo, ancorado na flexibilidade dos currículos e na escolha da trajetória de aprendizagem por cada aluno conforme seu interesse – 58% dos estudantes ouvidos pelo Datafolha em dezembro aprovam a ideia.

A carga horária de estudos também deve aumentar, caminhando para o ensino integral. Há pelo menos 20 anos, desde a adoção da LDB, a educação brasileira não passava por mudança desta magnitude. Estima-se que o novo ensino médio esteja efetivamente nas escolas lá por 2019.

Qualquer um que tenha filhos nesta fase da vida – são 8,3 milhões de alunos no país, segundo o Inep, e outros 1,7 milhão fora da escola – ou que já tenha passado pela experiência como estudante sabe: o ensino médio hoje não atrai ninguém, só repele. Basta constatar: de cada dois jovens que ingressam no médio apenas um chega ao final dos três anos desta etapa escolar e, destes, só 20% seguem para uma faculdade.

Basta observar os países que lideram os rankings trienais do Pisa – a maior parte com sistemas que o Brasil agora começará a copiar – e ver onde nós figuramos na lista, e também como nossos estudantes se saem no Ideb. Será que eles estão errados e nós certos?

A opção brasileira tem sido por um ensino enciclopédico, com 13 matérias que pouco se somam e seduzem menos ainda. “São disciplinas demais, assuntos demais e informação em excessoâ€, sintetiza Claudio de Moura Castro neste ótimo artigo a respeito. Outros países optam por focar a aprendizagem. Miram não apenas o futuro profissional, mas também o envolvimento e a formação dos jovens voltados para o mundo em que serão cidadãos.

O novo ensino médio é desafiador, como tudo que tem potencial transformador. Cabe a alunos, pais e comunidade em geral participar ativamente da vida escolar para evitar eventuais perdas e riscos, como críticos da reforma apontam. Vale a pena tentar. Porque uma coisa é garantida: se deixar como está, a bomba é certa.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1522

 

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