Crianças Infelizes

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Educação pública oferecida à infância brasileira agrava desigualdade social e disparidades regionais. Estrutura desequilibrada de gastos prejudica foco necessário no ensino

Pobre do país em que o destino de seus cidadãos está mal traçado desde que entram numa escola pela primeira vez. Esta continua sendo hoje a condição da maioria das crianças brasileiras, submetidas a um sistema de educação pública que não consegue ensinar-lhes fundamentos mínimos de escrita, leitura e cálculo.

A constatação se repete a cada nova avaliação, seja que nível de aprendizagem estiver sendo aferido. Passam anos, e a educação no Brasil não avança. Pior, retrocede, até porque as demais nações estão progredindo, cientes de que ensinar hoje é o investimento mais rentável no amanhã.

Nesta semana, o Ministério da Educação divulgou resultados da ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização), aplicada a cada dois anos a crianças, a maioria com 8 anos ou mais de idade, ao fim do 3° ano do ensino fundamental. O retrato que emerge das nossas escolas públicas é desastroso.

Mais da metade dos alunos apresenta habilidades insuficientes de matemática (54,5%) e leitura (54,7%); em escrita, 34% estão nesta condição. Na outra ponta, 27% das crianças estão no nível “desejávelâ€, o mais elevado, de aprendizagem de matemática, 13% no de leitura e somente 8% no de escrita.

Embora os índices gerais sejam levemente melhores que os de 2014, não dá para dizer que tenha havido mudanças significativas no período, muito menos avanços. Ou seja, foram mais dois anos jogados no lixo.

A disparidade regional agrava o atraso. No Norte e no Nordeste, 70% estão em níveis insuficientes de leitura e matemática – um terço deles no degrau mais baixo da escala. Em estados do Sul do país, somente 12% e 13%, respectivamente, estão no patamar mais inferior. Minas Gerais tem o melhor resultado global. Ainda assim, o padrão de ruindade é geral.

Educação precisa ser a causa primeira de uma nação. Mais especialmente, a atenção deve ser posta na primeira infância, para que desigualdades de partida não se perpetuem ao longo da trajetória escolar e determinem o destino de toda uma vida. É assim que se promove de fato a igualdade de oportunidades – e não em forma de teses abstratas.

Situações como a da educação reforçam a necessidade de redefinir os custos, os investimentos e o desenho do Estado brasileiro. Enquanto gastos com folha de salários do funcionalismo e pagamento de aposentadorias e pensões continuarem crescendo, menos recursos haverá para ensinar bem crianças e jovens.

Mas não é apenas de mais dinheiro que nossas escolas precisam, até porque, proporcionalmente, o Brasil já gasta tanto ou mais do que países muito mais avançados neste quesito: 5,4% do PIB, ante 4,8% da média dos 35 países da OCDE. É de método, para o que uma base curricular nacional comum tende a ajudar, de condições de trabalho e aprendizagem, de melhor formação de professores. Nossas crianças e jovens não podem continuar sendo tratadas como reféns de ideologias – quaisquer ideologias.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1686

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