A saída é exportar

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Depois de anos isolado do resto do mundo, Brasil mira comércio exterior para ativar a sua economia, mas as condições internacionais se tornaram bem menos favoráveis

O comércio exterior tem sido um dos poucos setores da economia brasileira a exibir algum vigor nos últimos meses. Na contramão da recessão – e também, em alguns aspectos, até em função dela – nunca a balança teve resultados tão positivos quanto agora. A saída tem sido exportar, ainda que o ímpeto comercial do país esteja sendo reavivado num momento em que fronteiras ao redor do mundo ameaçam se fechar.

O saldo do comércio internacional brasileiro foi o mais alto da série histórica, iniciada em 1989, para o período entre janeiro e outubro, segundo divulgou o MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) nesta semana. O valor chegou a US$ 38,5 bilhões. Embora o resultado no mês tenha sido o segundo pior de 2016, foi o 20° superávit mensal consecutivo.

O desempenho positivo ainda é menos decorrência de algum maior empuxo exportador do que da anemia das nossas importações. Com a crise econômica, o país vem deixando de comprar. No ano, até outubro, a média diária de desembarques caiu 23%, enquanto as exportações diminuíram 5%. Dessa diferença provém o superávit recorde.

A chamada corrente de comércio – que considera exportações e importações somadas – fornece boa medida do encolhimento das transações brasileiras com o exterior. A queda no ano é de quase 14%, o que significa que o Brasil subtraiu US$ 41 bilhões do seu fluxo de operações com o resto do mundo apenas nestes últimos dez meses.

Ainda assim, a previsão corrente entre analistas de mercado ouvidos pelo Banco Central – e publicada semanalmente no Boletim Focus – é de que a balança brasileira fechará o ano com superávit de US$ 48 bilhões. Se confirmada, será uma marca histórica: até hoje, o maior saldo comercial registrado pelo país é o de 2006, com US$ 46,5 bilhões.

O comércio internacional voltou a funcionar como motor possível da economia brasileira no mesmo momento em que a atividade interna continua se arrastando. Indústria, comércio, serviços e agropecuária, nesta ordem, foram tombando à medida que a recessão se espalhava pelo país ao longo dos últimos anos.

O infortúnio do Brasil é mirar a porta de saída no mesmo instante em que elas começam a se cerrar mundo afora. Há uma onda protecionista se formando em economias desenvolvidas, em especial nos EUA, onde tanto Donald Trump quanto Hillary Clinton têm apresentado restrições – ainda que em graus distintos – à maior abertura comercial daquele país.

O Brasil passou anos isolado do resto do mundo, ensimesmado pela postura acanhada dos governos do PT em relação ao nosso comércio exterior. À maior abertura, optamos por parcerias com algumas das economias mais depauperadas do globo hoje, como a Venezuela. Agora nos vemos na obrigação de tirar o atraso, mas as condições, infelizmente, se tornaram bem menos favoráveis.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1471

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