A Crise nas Prateleiras

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Com os números recentes, tem-se o retrato completo daquele que ficará marcado como o terceiro ano da recessão brasileira, a mais prolongada e profunda da nossa história

É no dia a dia das lojinhas, do comércio e do rame-rame da prestação de serviços que a crise econômica é percebida com cores mais vívidas. Afinal, são estas as atividades que mais ocupam pessoas, que mais movimentam a atividade e que, de alguma forma, batem mais fundo no bolso. Elas funcionam como termômetro realista da recessão.

 

O IBGE acabou de publicar os resultados do varejo e dos serviços relativos ao ano passado. O comércio varejista teve seu pior ano desde 2001, com queda de 6,2%. Quando se consideram também as vendas de veículos, motos e material de construção, a redução se aprofunda e atinge 8,7%. Em ambos os casos, são oito trimestre seguidos de baixas.

A crise é indubitável. Levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio mostrou que o número de estabelecimentos diminuiu em 109 mil em 2016, com 182 mil vagas de trabalho eliminadas. “Em dois anos, o comércio encolheu em mais de 200 mil lojas e quase 360 mil empregos diretos”, resumiu O Estado de S. Paulo na sua edição de segunda-feira.

Já os serviços despencaram 5%, após já terem caído 3,6% em 2015. São os piores resultados da série, que teve início em 2012. Um atenuante é que nos dois últimos meses de 2016 a variação voltou a ser positiva quando calculada sobre o mês anterior. Relevante notar que os segmentos com pior desempenho são os serviços mais dependentes da demanda da indústria (transportes e técnico-profissionais). Como as fábricas pararam, eles também estancaram.

São naturais as quedas. O desemprego, o endividamento e a inflação fizeram minguar o dinheiro disponível no bolso dos consumidores. A saída, claro, foi parar de comprar. Como agora os índices de preços estão bem mais comportados, as taxas de juros estão caindo e a atividade econômica começa a reagir, o cenário tende a mudar. Ajuda e muito, nesse sentido, a liberação de dinheiro retido em contas inativas do FGTS anunciada nesta semana pelo governo, que deve injetar cerca de R$ 30 bilhões na economia.

Com os números recentes, tem-se, aos poucos, o retrato completo daquele que ficará marcado como o terceiro ano de recessão brasileira, a mais prolongada e profunda da nossa história – recorde-se que a indústria recuou 6,6% em 2016 e a agricultura só agora caminha para recuperar-se, com brilho, da sua pior safra desde o início da década.

Os prognósticos, que serão confirmados pelo IBGE em 7 de março, sugerem que, no ano passado, a economia afundou no mesmo diapasão de 2015, ou seja, alguma coisa ao redor de 3,5%. No cômputo geral, no mergulho que vem desde o segundo trimestre de 2014 o PIB brasileiro terá decaído quase 9% e a renda per capita, uns 11%.

Tudo indica que o pior tenha ficado no passado. Todas as fichas estão postas na retomada do crescimento, mínimo que seja, a partir do segundo ou terceiro trimestre deste ano. Ainda não será nada de encher os olhos, mas para uma nação que passou tanto tempo submergindo já será um alívio e tanto.

– Carta de Formulação e Mobilização Política Nº 1526

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